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                     MOCHILEIRO CONVICTO 
                  27.04.1990 
                   
                    Fui  um mochileiro convicto. Rodei muitos caminhos na boleia de caminhão e em  carros alheios, de pessoas desconhecidas, como caroneiro. 
                      As estradas eram poucas, não havia asfalto por toda parte mas não era difícil  conseguir um caminhoneiro com quem viajar horas e horas, trocando ideias e  informações.      
                      Nem era tão perigoso. Naquela época eram raríssimos os furtos e assaltos a  caminhões. 
                      Andava com mochila, mas  conservando sempre as roupas o mais limpas possível, com boa aparência. Nem  tanto para inspirar mais confiança quanto para sentir-me melhor, mais  confortável, com urbanidade.  
                      Uma vez um gaúcho (era gaúcho ou era catarinense?) recolheu-me em uma rodovia e  confessou que não estava autorizado pela firma transportador a dar caronas mas  que o fazia para ter uma companhia. A boa da noite era uma imprudência recolher  um desconhecido. E explicou-se: 
                      — Sozinho corro o risco de dormir sobre o volante e morrer de acidente. Prefiro  arriscar-me e ser útil a alguém. Afinal, morrer por morrer, é preferível por  causa de um assalto, do que por descuido. Pelo menos morreria com a satisfação  íntima de uma boa ação.    
                      Não devem existir muitos como ele   
                      nos dias de hoje. No início dos anos 60, o  Brasil era um imenso deserto, sem comunicações, e era mais fraterno. 
                    O brasileiro vai aos poucos, por causa da violência generalizando, perdendo a  sua índole comunicativa e hospitaleira. Uma pena.             
                
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